“O conceito de Verdade não é um
problema dado. Ele está sempre aí, nas nossas relações com o outro, com os
objetos, e com nós mesmos. A Verdade pode traduzir-se
em liberdade quando somos colocados frente a uma situação real e, por mero exercício de
consciência, quase que instintivamente, temos a capacidade de harmonizar
nossas vontades íntimas com as limitações do meio externo, necessárias
para a nossa vida em sociedade. A verdade ganha força, se mostra clara
e reluzente
quanto maior a autonomia do ser humano em agir segundo seus princípios, em transitar pelas
terras que escolher e em se manifestar utilizando a linguagem que melhor lhe couber. No entanto, a
Verdade forjada pode também aprisionar, dilacerar, nos tornar reféns. A
Verdade declarada, manipulada e reduzida a uma só voz, no seio da injustiça e da opressão, se torna o pior algoz do
homem. Transforma-se em Mentira…”
O povo brasileiro possui um passado marcado por sucessivas violações de direitos humanos. Desde
a chegada de nossos colonizadores, dizimando a
população indígena, passando pela escravidão de nossos
irmãos diretos afrodescendentes e desembocando numa ditadura civil-militar, o
brasileiro vem lutando às duras penas. Luta
para comer, para morar, para se manifestar. E,
quando suas forças quase se exaurem, ele resiste. A História e suas Verdades factuais estiveram
escondidas nos porões escuros da ditadura, mas também resistiram ao silêncio a que foram
submetidas por anos. Hoje, irrompem no ar as vozes
eloquentes de quem sofreu na pele os horrores da repressão política. Estamos vivendo o renascimento da verdade através do processo árduo e
dolorido de lavar as feridas, contar e identificar quem feriu, num processo de passar a história a
limpo: Sim, o Estado oprimiu! O
Estado violou! O Estado torturou! O Estado matou!
O sonho de realizar um Estado Democrático de Direito sempre está presente naqueles que direcionam suas vidas pessoais
e profissionais no sentido de uma
sociedade mais justa e mais próxima do ideal de igualdade social. As tiranias e as ditaduras nunca foram o desejo da maioria
brasileira, nunca. Somos um povo que deseja saúde,
educação e emprego para todos, sem distinção. Almejamos uma
nação livre e democrática. Os anos de chumbo nos retiraram esta possibilidade
de escolha, nos lançaram num território onde a diversidade de opiniões era
incutido massivamente nos espíritos como algo perigoso. Para manter o poderio de
uns poucos, as mais diversas perversidades foram cometidas. Vidas foram
interrompidas e famílias desintegradas. A ordem era: eliminar os que se opunham
à ordem estabelecida. E agora, povo brasileiro? O
que fazer? A resposta veio imediatamente:
Lutar e resistir! Ninguém pode mudar o que aconteceu. Tudo vem à tona. A memória
da resistência ao golpe militar e ao Estado opressor é a Verdade invencível e um legado precioso para nossas próximas gerações.
Mariana Barros
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